Às vezes, as idéias mais simples são
também as mais brilhantes. Isto já foi provado em 1960, com o lançamento
do sistema cassete pela Philips e, novamente, em 79, pela introdução
do seu Compact Disc (CD), o
disco digital de quatro polegadas e meia que proporciona uma hora de música
(de cada lado) de altíssima fidelidade. Este sistema - que utiliza,
ao invés de uma agulha, um raio laser
- foi amplamente comentado já na SOMTRÊS nº 6, em junho de
1979.
Nos dois últimos anos,
este sistema, apesar de não atingir ainda o mercado consumidor, vem
sendo adotado pela Sony, Studer/Revox e, ultimamente também pela
Matsushita, possuidora das marcas Panasonic e Technics.
Mas, neste meio tempo,
apareceram outras marcas com discos de áudio digital, todas elas viáveis
pelo menos na opinião dos seus criadores. De todas estas concorrentes
ao mercado do disco de áudio digital, talvez a mais promissora,
depois da Philips, parece ser a JVC, que lançou o sistema chamado Audio
High Density (AHD), como subproduto do seu disco de vídeo,
chamado Video High Density (VHD).
O sistema, que utiliza um sensor capacitivo, teve sua principal cotação
devido compatibilidade do disco de áudio (AHD) e o de vídeo (VHD),
que utilizam a mesma máquina para a reprodução.
SURPRESA
De repente, em fins de
1980, o pessoal atento a evolução do mercado japonês de áudio
ficou intrigado com um artigo publicado na revista Dempa
Shimbun, no qual um comitê patrocinado pelo governo japonês
divulgava as suas recomendações para a adoção de um padrão para o
disco de áudio digital. Em seus estudos, o comitê estreitou as
possibilidades de padronização para três concorrentes. Dois deles já
eram familiares e até esperados: o Compact
Disc de quatro polegadas e meia desenvolvido pela Philips; e o Audio
High Density (AHD) desenvolvido pela JVC. Mas o terceiro
classificado, até então desconhecido, despertou logo a atenção.
Tratava-se do Minidisk
e do Mikrodisk (MD) da
Telefunken alemã apresentado ao comitê alguns dias antes do seu
parecer.
De um dia para outro, o
disco MD, que até então era considerado um dos inúmeros protótipos
sem nenhuma divulgação ou importância comercial (comparado ao poder
de comercialização de marcas como a Sony, Matsushita e JVC),
adquiriu uma significância estratégica e passou a despertar a atenção
dos maiores fabricantes de áudio do mundo.
O PROJETO
O MD é o resultado de dez
anos de desenvolvimento de um projeto de cooperação entre a
Telefunken e a Teldec, subsidiária da Decca. A premissa básica que
orientou o pessoal de desenvolvimento, chefiado pelo engenheiro Horst
Redlich da Telefunken, foi a criação de um sistema de codificação
digital de baixo custo, que pudesse competir com os preços atuais dos
sistemas analógicos, tanto no que se refere ao aparelho de reprodução
como ao próprio disco.
Para isso, a solução
adotada foi um simples sistema mecânico composto de um disco de
vinil, igual aos discos atuais, todavia em tamanhos reduzidos. O Minidisk,
que proporciona uma hora de gravação estereofônica por lado,
vem com o diâmetro de 135 milímetros (5.3 polegadas); e o Mikrodisk, análogo ao disco compacto, tem o diâmetro de 75 milímetros
e proporciona dez minutos de gravação estéreo por lado. Os dois
formatos dos discos MD vêm dentro de um invólucro de proteção
parecido com um cartucho, para prevenir a superfície de danos ou
contaminação E, obviamente, ambos os formatos são reproduzidos no
mesmo aparelho.
A "cápsula" do
sistema MD é do tipo piezoelétrico, utilizando um transdutor cerâmico
equipado com uma agulha de diamante, suspensa por um cantilever
relativamente comprido.
A modulação nos sulcos,
ao contrário dos discos analógicos, é vertical em forma de picos e
vales. Os sulcos têm o formato espiral, começando na extremidade do
disco e terminando no centro, o que também implica num sistema de
rastreamento simples, parecido com o método atual.
Do ponto de vista eletrônico
os discos MD utilizam a técnica de codificação linear de 14 bits,
com um sistema de correção de erro elaborado, o que teoricamente
proporciona uma relação sinal/ruído de 85 dB, perfeitamente
competitivo com os sistemas da Philips e da JVC. Também como seus
concorrentes, o sistema MD permite acesso aleatório a qualquer ponto
no disco, com pausa, repetição, etc., programáveis a partir de um
teclado eletrônico.
O corte das madres para o
sistema MD é um pouco diferente do sistema convencional. A madre é
de cobre e a agulha de corte não é aquecida ao entalhar os vales e
os picos nos sulcos. Por outro lado, a prensagem dos discos finais
utiliza o método usual, inclusive no que se refere à matéria-prima
do disco, com uma vantagem ainda: a cada ciclo de prensagem, uma máquina
normal de LPs pode prensar três Minidisk ou Seis Mikrodisk, o que
reduz o custo básico de produção a um valor abaixo daquele
considerado normalmente para a disco analógico.
POSSIBILIDADES
Um dos pontos que a Philips
mencionou ao lançar seu Compact Disc foi sua compatibilidade com
equipamentos portáteis e principalmente para automóveis, devido ao
sistema de rastreamento sem contato físico. Obviamente, este
argumento só pode ser considerado daqui dez ou quinze anos, após as
indústrias já terem concordado sobre um padrão único e o custo
tecnológico reduzido a um nível acessível à grande massa
consumidora. Portanto, a discussão atual
sobre o êxito dos três sistemas mais viáveis independe deste
tipo de vantagens.
Na verdade, ninguém
consegue prever quais serão as chances de indicação do sistema MD
da Telefunken como o preferido pelo comitê japonês, mas a maioria
dos observadores industriais concorda que ele será o menos favorecido
dos três, apesar da sua praticidade e baixo custo. Isto se deve
principalmente a fatores de poderio comercial, que colocam, pelo menos
no âmbito europeu, a Philips como a mais proeminente indústria.
Isto, forçosamente, impôe
uma preferência das outras indústrias européias e inglesas em
aderir ao padrão da Philips, sem mais considerações técnicas de
desempenho ou custo. Sem falar da crescente adesão ao sistema da
Philips de indústrias japonesas lideradas pela Matsushita e pela
Sony, o que reduz substancialmente as chances da Telefunken.
A
JVC, por outro lado, tem alguns pontos a favor do seu sistema AHD. Não
necessariamente do ponto de vista técnico ou econômico. A verdade é
que o seu videodisco VHD está sendo considerado seriamente para o
mercado doméstico japonês. Por tabela, e se tiver o êxito esperado,
o sistema AHD, que utiliza para reprodução o mesmo aparelho do VHD,
poderá se tornar bastante popular.
Na
minha opinião, a idéia do sistema MD é brilhante, simples, prática
e, sobretudo, econômica. Mas nem por isto seu êxito garantido.
Inclusive por causa da defasagem do seu lançamento em relação ao
sistema da Philips, o que implica, agora, em vencer acordos de fabricação
já adotados, principalmente por empresas poderosas. Talvez suas
chances possam aumentar se estas mesmas poderosas empresas entrarem
num conflito de acordos ou de padrões, como já aconteceu várias
vezes no passado, abrindo, então, caminho para a idéia da
Telefunken.
Entretanto, esta preocupação
está ainda por vir, pois a adoção do sistema digital para discos
ainda implica na modificação de toda uma indústria de gravação e
de prensagem, sem falar dos grandes investimentos em coleções dos
discos analógicos, que terão que justificar uma vida útil de - pelo
menos - uma década.